Liéber Garcia – lieber.garcia@premix.com.br


lieber-2017

Definimos ruminantes como os animais que conseguem digerir e aproveitar os nutrientes de origem vegetal, como as forragens. No entanto, isso só é possível devido a uma simbiose mutualística, com microrganismos presentes no rúmen dos bovinos, como as vacas leiteiras.

A forragem ingerida consegue ser fermentada por esses microrganismos, ou seja, ela serve de alimento para bactérias, protozoários e fungos, e os mesmos devolvem aos bovinos nutrientes como energia, proteína e alguns minerais e vitaminas, oriundos dessa fermentação.

Essa degradação dos alimentos no rúmen deve seguir uma ordem de equilíbrio de nutrientes, como energia fermentável no rúmen, proteína degradável no rúmen, minerais e vitaminas para que, tanto a vaca (animal hospedeiro) quanto os microrganismos sejam bem nutridos, a fim de expressarem seu potencial genético para a produção leiteira.

O problema é que essa degradação ruminal produz, dentre outros compostos, CO2, CH4 (metano), lactato e ácidos graxos voláteis (AGVs), sendo que o CO2 e o CH4 serão eructados pelo animal, caracterizando uma perda de energia da dieta. Portanto, se minimizarmos as produções de CH4 e ácido láctico e oferecermos energia e proteína fermentável em equilíbrio, teremos uma melhor eficiência na utilização dos alimentos pelo animal, e, consequentemente, um melhor desempenho zootécnico (ganho de peso, produção leiteira, reprodução).

Dependendo do nível nutricional do animal e dos alimentos disponíveis para balancearmos as dietas, devemos lançar mão dos chamados aditivos alimentares, substâncias orgânicas ou inorgânicas que são adicionados aos alimentos dos animais com alguns objetivos, nesse caso, para fermentação ruminal ou proteção da saúde do animal, que poderemos resumir em:

– Melhorar o crescimento microbiano;

– Minimizar, eliminar ou alterar os processos ineficientes de digestão;

– Minimizar, eliminar ou alterar os processos prejudiciais ao animal hospedeiro.

Podemos traduzir esses objetivos para a prática como sendo: produção leiteira abaixo do potencial genético do animal; problemas de cascos; baixa qualidade no leite, sendo o produtor penalizado; baixa resposta imune; problemas reprodutivos; infecções e descarte involuntário de animais.

Portanto, quanto maior o nível de produção do animal, maior será o desafio em manter altas produções, manejo reprodutivo e longevidade do animal no rebanho leiteiro.

Dentre os aditivos alimentares, podemos citar: adsorventes de micotoxinas, paredes de leveduras e biotina, que irão atuar diretamente na saúde do animal; tamponantes, ionóforos, probióticos, leveduras e óleos essenciais, que, neste caso, irão atuar na fermentação ruminal, ora dando condições de crescimento para bactérias benéficas ao sistema, ora eliminando bactérias maléficas ao sistema fermentativo.

Adsorventes de micotoxinas são substâncias inertes por todo o trato gastrointestinal do animal, que terão a finalidade de “ligar e arrastar” prováveis micotoxinas (Aflatoxina, DON, Zearalenona, etc.) presentes em alimentos “ardidos”, com fungos, como as silagens e grão mofados. Eliminando estes compostos, haverá um incremento em ganho de peso, produção leiteira e, principalmente, no quadro reprodutivo do rebanho.

A biotina é uma vitamina do complexo B que atua na prevenção de problemas relacionados com os cascos. Sabemos que o manejo do piso onde os animais se locomovem tem mais efeito sobre os problemas dos cascos. Portanto, antes de partir para o uso deste aditivo, é importante averiguar se o piso está de acordo, caso contrário, o efeito esperado não poderá ser alcançado. Estudos mostram que a suplementação de 20 mg/dia de biotina é suficiente para os benefícios em dureza dos cascos e produção leiteira incrementada. Seu uso no período chuvoso auxilia no tratamento e prevenção de infecção nos cascos.

Tamponantes: neste caso, o bicarbonato de sódio, associado ao óxido de magnésio, quando utilizados, deverão equilibrar o pH, aumentando-o e estabilizando-o de maneira que não prejudique, principalmente, as bactérias que degradam fibras. Estas são as mais sensíveis a oscilações no pH ruminal. Uma vez prejudicadas as condições, a fibra da dieta deixará de ser degradada, acarretando queda na produção, baixos níveis de gordura no leite e produção de ácido láctico por bactérias que crescem em pH ácido, levando inclusive a problemas de cascos. Nos animais em estresse calórico (principalmente no verão), que não têm um sistema de sombreamento/resfriamento adequado, seu uso é imprescindível, pois nessas condições o animal deixa de ingerir alimento (principalmente fibra), podendo diminuir a produção leiteira, além de cair a qualidade em termos de gordura, podendo o produtor ser penalizado pelo laticínio.

Os ionóforos são antibióticos que selecionam bactérias. Neste caso, as produtoras de ácido lático e metano são eliminadas do ambiente ruminal, melhorando os casos de acidose ruminal e incrementando a eficiência energética do sistema, fazendo com que o animal produza mais leite. Seu uso deverá ser bem avaliado, pois poderá restringir, dependendo do nível, a ingestão de matéria seca, podendo este efeito ser benéfico ou não. O principal benefício de seu uso será o aumento na produção de leite devido ao aporte de energia ao sistema nutricional da vaca.

Probióticos e leveduras são compostos metabólicos e/ou organismos vivos que favorecem o crescimento microbiano ruminal, ora eliminando compostos tóxicos (lactato), ora melhorando o ambiente ruminal. Suas enzimas melhoram a degradação dos nutrientes das dietas (principalmente as fibras), favorecendo o incremento produtivo e reprodutivo. Estudos recentes demonstram os efeitos benéficos em animais com estresse calórico e melhora na resposta imune do animal, melhorando a longevidade dos mesmos no rebanho. Em fazendas onde o volumoso é de baixa qualidade, o seu uso melhorará a digestão deste alimento, podendo aumentar a produção.

Óleos essenciais são polímeros de ácidos graxos, tóxicos para algumas bactérias presentes no rúmen, principalmente as produtoras de metano. Seu uso tem incrementado a digestão fibrosa e redução na produção de metano pela fermentação, impulsionando a produção dos animais. Portanto, haverá uma melhor resposta na melhoria da composição do leite, principalmente em teores de gordura, podendo o produtor ser melhor remunerado pelo laticínio.

Em resumo, o produtor deverá buscar produtos de suplementação no mercado que auxiliem seu rebanho em dois pontos fundamentais para a produtividade de suas propriedades:

Aumento da produção de leite:

– Maior segurança na dieta, com o controle da acidose;

– Aumento dos sólidos no leite;

– Redução de infecções;

– Melhora na qualidade dos cascos.

Aumento da longevidade das vacas em até um ano.

Liéber Garcia é mestre em zootecnia e coordenador de pecuária leiteira da Premix

Fonte: PREMIX